quarta-feira, 14 de maio de 2014

Vai tudo bem?


O que você faria no lugar dela? Não duvido nada que você postaria no face:
“Homem de Deus que é homem de Deus não ilude uma mulher.”
Ou então você contaria para muitas pessoas da sua igreja, usando a situação como desculpa pra você virar um desigrejado, afinal, não é assim que você está? Desigrejado?

Você conhece a sunamita? Então tente-a imaginar como uma mulher distinta, rica e prendada. 
Ah sim... Prendada. Ela amava servir e fazer com que seu marido se sentisse bem em sua casa. Ela era tão cheia de bondade, que pediu ao seu marido que a ajudasse a construir um pequeno quarto de tijolos com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lamparina para que Eliseu se hospedasse ali todas as vezes que passasse por aquele povo.

Quanta gratidão no coração do profeta Eliseu! Ele ficou encantado com todo aquele carinho e respeito, e resolveu presentear aquela mulher. Seu marido já era velho, e ela não podia ter filhos. Eliseu disse para a sunamita que ela teria um filho no próximo ano, e ela respondeu tão prontamente quanto eu e você responderíamos quando a esperança corre de nós a passos largos:
“Ah, meu Senhor! Não iluda a tua serva...”

E no tempo que Eliseu determinou, ela teve um filho.

Da hora, né? Criança traz uma alegria, uma vontade de voltar a ser criança, desperta em nós um cuidado e um reflexo que nem um jogador de futebol consegue desenvolver tão depressa.

Mas a criança morreu. Sim, a criança morreu com fortes dores de cabeça enquanto ajudava o pai na lavoura.
A sunamita deitou a criança no quarto que havia feito para Eliseu, montou em um jumento, e antes que atravessasse o cercado de sua casa, encontrou o seu marido fazendo aquela cara de “pra onde você pensa que vai?”. E ela respondeu “vai tudo bem”. 

Ela foi sem olhar para os lados, focada no monte Carmelo, onde estava Eliseu. Eliseu a viu de longe e pediu que seu servo, Geazi, fosse encontra-la para saber se ia tudo bem com ela e a família. Geazi encontrou e ela sequer parou para cumprimenta-lo, só o que respondeu foi “vai tudo bem”.

Quantas vezes somos nós os desaforados? Os que saem maldizendo a Deus e a todos porque as coisas não saíram como convinham? Quantas vezes somos mimados e contamos toda a situação para a primeira pessoa que nos pergunta qualquer coisa sem antes termos conversado com quem realmente pode nos dar a direção?

Nunca contamos o nosso momento desesperador para alguém sem maldizer nossas atitudes, as pessoas que nos cercam e, muitas vezes, Deus e os seus planos. Pode ser o seu namoro, casamento, diploma, faculdade, amizade, carro, seus pais, emprego, salário. No caso da sunamita, meu caro, era um filho.

Não me espantaria se ela saísse chorando, clamando aos céus por socorro, comovendo todo o seu povo a orar, as mulheres da vila a cuidar do seu filho morto e preparar o funeral, e fosse pelo caminho até o monte Carmelo chorando e gritando:
“EU NÃO PEDI ESSE FILHO, ELISEU. AGORA RESOLVA MEU CORAÇÃO DILACERADO!”

Ela saiu calada, focada: ela queria falar com o profeta. Somente o profeta poderia lhe responder as perguntas que mais doíam em seu coração.  Quando o profeta avistou a sunamita, ele soube a tristeza que ela trazia consigo, as lágrimas de amargura que ela ainda não tinha deixado que rolassem para que ela não conseguisse se prostrar diante de Eliseu e dizer:
“Te pedi algum filho? Eu não disse: Não me iluda? Olha agora como estou...”

Quase todas as vezes que você diz que não Deus não te respondeu e que você está muito desanimado, você não levou a Deus em oração o motivo de tanta preocupação. Nós somos seres tão inconstantes, que pensamos que aquela conversa que tivemos com nosso amigo, aquele desabafo, aquele atendimento com o líder da igreja foi o suficiente para que Deus ficasse sabendo do que se passa em nós.

Nos momentos de maior desespero, somos mal interpretados por quem cruza nosso caminho, afinal, não somos nós quem pregamos as boas novas? Não fomos nós que subimos tantas vezes no altar para levantar as mãos e dizer “Em tua graça estou satisfeito, Senhor”? Quem pode entender nosso momento de maior desespero?

O mestre. O Rabi. Cristo.

Quando entendemos e aprendemos a olhar e dizer “Vai tudo bem”, e focar no olhar do Mestre, conseguimos resolver questões de maior conflito dentro de nós mesmos.

Quando deixamos de contar esses problemas para quem não pode resolver, e esperamos para sermos atraídos e cuidados pelo olhar do Mestre, algo dentro de nós renasce e desponta em forma de esperança.
Em nossa vida com Cristo, estamos sob um sol escaldante o tempo inteiro. A diferença é que Cristo nos reserva fontes de água para refrigerar nossa alma durante todo o caminho – mas o sol continua a queimar nossas cabeças. E nesse deserto aprendemos uma das mais duras experiências: saber em quem podemos confiar.

Pra você, vai tudo bem comigo. Diante de Cristo, eu deixo que as portas do meu coração se abram e a sinceridade aponte para as feridas mais profundas que carrego, porque só assim eu encontro refrigério nesse deserto de areia grossa que machuca meus pés, e de sol escaldante que não me faz esquecer um minuto sequer que sou peregrino e esse não é o meu lar.

Quanto à sunamita, ela teve o seu filho de volta, e se prostrou novamente para adorar ao Senhor porque ela sabia que tinha feito a coisa certa em procurar quem poderia resolver o seu problema.

Quando a nós, dentre todos esses olhares que nos lançam, que possamos encontrar o olhar do Mestre e sermos atraídos por ele. Que o mundo nos olhe e pense “Com ele vai tudo bem.”, que Cristo nos olhe e sussurre “Não desista. Eu estou com você.”.

P.s: hoje eu acordei com uma música que eu cantava com a minha mãe quanto eu tinha uns 3 anos. É capaz que muitos de vocês nem conheçam, mas vale ler um trecho:

“Essa paz que eu sinto em minh ‘alma, não é porque tudo me vai bem. Essa paz que eu sinto em minh ‘alma, é porque eu amo o meu Senhor. Não olhe as circunstâncias, não, não, não. Olhe o seu amor, o seu grande amor. Não me guio por vistas, alegre sou! E ainda que a terra não floresça, e a vide não dê o seu fruto. E ainda que os montes se lancem ao mar, que a terra trema, hei de confiar!”

Que essa seja a nossa oração.

Até quarta, gente! Se Deus quiser.

May Freire

Um comentário:

  1. Convivo em meu dia a dia com muitas pessoas negativas que só reclamam de tudo e sem a gente perceber acaba ficando igual essas pessoas. Deus tem tratado comigo para não ser igual, pois ficar reclamando e murmurando é chato para quem ouve e não resolve nenhum problema. Gostei muito do texto, temos sempre que focar em Jesus e afirmar "vai tudo bem".

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