quarta-feira, 9 de abril de 2014

Desabafo

Pai, sou eu de novo aqui embaixo.
Dessa vez a janela não está aberta, eu sequer olhei se tem lua hoje e está muito frio, não tem brisa que me aquece, pelo contrário, um vento frio que gela meu coração toda as vezes que sinto essa dor.
Eu disse que nunca mais escreveria nada sobre o que realmente sinto, principalmente nesses dias escuros, mas somente os apaixonados juram nunca mais amar, eu jurei nunca mais escrever nessa escuridão e estou aqui, com os olhos marejados, te pedindo ensinamento.
Eu poderia te pedir tanta coisa. Dez reais, por exemplo. Ou uma festa de casamento.
Mas eu quero mesmo é aprender com Você algumas coisas muito chatas, que incomodam qualquer criança.
Eu não sei esperar, não sei Te olhar e acreditar nesse 'tempo certo pra todas as coisas' afinal, porque insistir sem fé nenhuma?
Mas aí eu insisto porque eu aprendi a confiar que, no final, alguma coisa fará sentido.
Me ensina a ver tudo o que eu vejo todos os dias e não explodir. Eu preciso aprender a não explodir, preciso aprender a enxergar as coisas desse Teu jeito cheio de amor e de uma graça que eu não encontro em ninguém, afinal, quem me amaria desse jeito, não é mesmo?
Parece que eu estou jogando conversa fora, fugindo do assunto - pode até ser isso - , mas é que eu venho caminhando como posso, fazendo o que está ao meu alcance, cambaleando nesses dias escuros que me cegam e me dão um desespero horroroso.
Antes eu tinha certeza que essas coisas eram coisas de adolescente intenso, que ia passar. Mas é que agora sinto amadurecer, petrificar dentro de mim coisas que levarei pro resto da vida, que meus filhos enxergarão no fundo dos meus olhos como uma janela que se abre pro mundo, e eles saberão a dor que é enclausurar-se dentro de uma casulo que não é seu.
Eu preciso dessa força, dessa Sua atitude, desse Seu amor, do Seu perdão pra que eu possa perdoar toda a minha falta de fé e coragem. Me perdoar porque, muitas vezes, esqueço que existe um céu para se olhar e me tirar um sorriso quando algumas coisas já não existirem mais em mim e nos outros.
Me perdoar por ter me tornado essa pessoa insípida, que deixou de ver a beleza que Tu deixaste pra mim e foquei nisso tudo que não vale a pena.
Meus pés estão cansados mas, quem sabe ao Te sentir de novo aqui eu arrisque mais um passo e tudo isso fique no passado, no mais distante passado.

Até quarta, gente
May Freire. 

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