Engraçado o seu tempo, não no sentido de não fazer sentido,
mas de me abrir o zíper no peito e sair de mim só pra reconhecer que não mando
em nada aqui. O calendário gira no nosso nariz e apontamos datas, horários e
programamos o despertador. Que nada! Nada funcionará como queremos se você não
quiser. E isso não te faz malvado, te faz Pai. Eu enxergo até o horizonte, se
eu quiser ver mais, só consigo ver a luz que desponta depois do horizonte
quando o dia acorda e dorme. Mas você enxerga além. Além do arco-íris, do horizonte
e de toda essa linha meio torta que cerca o horizonte quando eu tento ver mais.
Faz sentido tantos calendários quando é você quem decide? Os ponteiros correm e
a gente não alcança nenhum deles, assinamos, combinamos, esperamos e não te
falamos nada. Que direito tenho em cobrar o auxílio que não foi dado se eu não
te dei espaço? Se eu te sufoquei com meus planos, papeis, contas bancárias e
livros? Se todas as noites eu sentava na escrivaninha para planejar e era
incapaz de levantar os olhos e te ver sentado do outro lado me esperando te dar
espaço para se pronunciar antes que eu fosse deitar? Você tentou avisar sobre o
mau tempo, você tentou avisar que eu devia estar em outro lugar, você balbuciou
alguma coisa que eu fingi nem ouvir... Meus olhos, minha boca, minhas mãos,
meus pés e pensamentos correram em direção contrária à tua vontade.
Agora estamos eu e você, encharcados, sujos de lama, com os
olhos inchados de chorar e sentindo como se a ferida estivesse ainda em carne
viva nos impossibilitando de recomeçar. Mas sabe o que me faz sussurrar teu
nome? Essa sua força, suas palavras de exortação, você em pé me estendendo a
mão ainda suja de lama me chamando para recomeçar, você sentado ao meu lado na
escrivaninha rabiscando alguns papeis me mostrando seu plano pra mim, seu olhar
de amor quando te olho com os olhos marejados sabendo que você sabe o quanto
dói me lembrar das vezes que você tentou me alertar e eu não ouvi. Depois de
uma queda é tão difícil recuperar as forças, mas ser carregada por você traz
bons sonhos novamente.
Sabe o que me faz sussurrar teu nome? O teu amor por mim,
Jesus.
Jesus.
Jesus.
Até quarta, gente!
May Freire
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