terça-feira, 7 de janeiro de 2014

AS PALAVRAS


Abra os olhos (ou feche para ver melhor), e perceba que as palavras estão aí. Todas no ar. Todas.
Tem palavras que você ouviu quando era pequeno, palavras que você acabou de ouvir. Algumas ferem, outras marcam, e tem palavras que determinam quase tudo. Elas estão flutuando, pode ser no seu dia, na sua memória, na sua história, nos seus sonhos. Nós estamos cercados de palavras, de avisos, de abusos, de ofertas. Tanto no mundo visível quanto no mundo invisível. As palavras são reais e querem contar uma história.

Um dia eu ouvi um amigo dizer que os átomos estão divididos entre o bem e o mal. E você pode até duvidar disso, mas se você já acreditou em alguma palavra, alguma vez na vida, então a noção de bem e mal faz todo o sentido, porque as palavras têm destino, elas estão no meio de batalhas, elas sobrevivem a guerras e a inimigos. Elas são seres vivos que podem te ferir feio, ou então transformar a sua vida pra sempre.

Deixando isso um pouco de lado, mas sem mudar de assunto, sempre me incomodou o fato de algumas pessoas imaginarem Jesus Cristo como um Deus inanimado, magrelo e ingênuo demais. Mas esses dias eu andei pensando e acho que ele devia ser um pouco inquieto. 

Não um desesperado, mas muitas vezes uma pessoa apressada, decidida, pronta. E o motivo de toda essa movimentação de Jesus aqui na Terra, só pode ter um fundamento: Ele acreditava em palavras e sabia do poder que existia nelas. Ele tinha coisas pra contar.
Por causa dessas palavras ele entrava e saía das cidades, ele mudava a vida das pessoas. Por causa das palavras que ele tinha pra falar, os religiosos ficaram sem voz, a ignorância ficou rouca, a burrice se calou. Palavras não são só coisas que você escreve. Mas são as histórias que você conta quando faz alguma coisa. Jesus brigou pelas palavras. Ele olhou na cara das pessoas e disse “você acredita que pode ser curado?” “o que você quer que eu faça por você?” “você quer a eternidade?”. Acredite, se Ele não levasse fé nas palavras, então ele não se interessaria pelas respostas das pessoas. Ele provocava respostas, ele cutucava as escolhas. Jesus conversava. Ele não era uma palavra morta, sem sentido.

A maior prova de que ele levava as palavras a sério, é o fato dele mesmo ser uma palavra.

O verbo, a ação, o nome, a palavra absoluta que faz sentido mesmo sozinha. Ele era uma palavra viva porque precisava que você entendesse que o roteiro e o rumo da situação podem mudar a qualquer momento. Ele pode não ser o dono da sua história, mas a palavra que determina o rumo dela sempre será ele. Muita gente pensa que ele é uma lei gramatical difícil de entender. Ou então um intelectual, ou um texto cheio de palavras difíceis, mas não. Ele é o verbo, e para cada história ele se encaixa perfeitamente. Ele nunca seria uma palavra difícil de você entender, porque ele foi feito para estar escrito no meio das suas palavras, da sua história, dos seus erros e garranchos.

Cabe à você ler isso hoje e entender que talvez seja o momento de produzir as suas próprias palavras, e que hoje você possa finalmente falar. Ainda que sejam palavras inexprimíveis, ainda que seja um gemido de dor, um desabafo que só Deus entende, e que você não queria contar para mais ninguém. Vá em frente, fale. Fure o silência, deixe eles acharem que é loucura, mas experimente você mesmo que Ele não é a história que não tem nada a ver com a sua. Ele é um verbo oportuno, aquela palavra que você esqueceu, mas que explica tudo.

As palavra estão lançadas no ar, nos seus ouvidos, na tela do seu computador. Quem vai pegar?

Tiago Lima

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