terça-feira, 30 de julho de 2013

DE REPENTE 30




Nas vésperas do meu dia, me peguei pensando...fazer aniversário...o que isso significa? Acumular anos de vida sim,  mas, principalmente, é comemorar os resultados de uma trama que tece o enredo de uma existência em parcelas de acertos e enganos, como estações que alternam os meses e alteram o clima, dão o tom e tiram a cor, aquecem e refrigeram, florescendo e forrando o chão da vida.
Mais um ano, que não foi um ano comum, passou deixando suas marcas, ensinamentos, mudanças profundas, saudade, alívio e gratidão. É comum no final de cada ano uma espécie de recolhimento, a necessidade da reflexão. Pra mim, veio agora. 

Foram mais de 10 mil dias até aqui, é hora de olhar pra trás, hora de despedidas, de encarar os fatos, de desapegar, de viver fortes emoções. Hora de sentir vazios, de espiar os sonhos, soltando partes de mim mesmo. Hora de reconstruir, ajustar, não ignorar as tristezas e agradecer pelas inúmeras alegrias. E é hora de celebrar, expulsando memórias, lembrando dos pequenos gestos, suavizando os ressentimentos, retardando as inquietações. É hora de agregar valores novos, de polir as ideias, de limpar as mágoas, de encomendar esperança, hora de virar a página, de prender a fera e soltar a criança. É hora de parir novos sonhos, de alcançar as metas, de rir o meu riso e de chorar o meu pranto. 

São muitos anos, 360 meses, tantos fatos, ilusões, sonhos, enganos, sabedoria, frustrações, satisfações, decepções - e escolhas. Algumas me levaram para o aprendizado difícil, me mostraram os espinhos, me sangraram a alma, roubaram o céu, trazendo o que eu precisava aprender. Chorei, me recolhi, refiz planos, travei de medo, revi os enganos e senti vergonha; bebi da minha fonte turva, olhei em olhos tristonhos, ouvi e fiz lamentações. Desabei, cometi deslizes, falei o que não devia, me precipitei,  julguei - e mal! - ignorei a intuição que batia, fiz pouco da sorte, fui atrevido, medroso, fiz previsões e me frustrei. Magoei pessoas que amo, fui magoado, esqueci as promessas íntimas que me fiz, tive dias tão pesados que nem sei como sobrevivi. Acreditei e confiei, mas nem sempre adiantou - construí sonhos, esquecido de que dependia de muitas pessoas para que se realizassem, então de novo me frustrei, e aí agredi, e novamente me vi diante de lições que não aprendi. Falhei comigo e com os outros, senti a impotência me ensinando sobre flexibilizar, retomei o olhar que perdi, mergulhei em mim mesmo e fiz novas escolhas, porque nem tudo aprendi...

Outras escolhas, no entanto, me fizeram gargalhar, levaram por caminhos férteis, onde semeei temperança, uma dose boa de esperança - e uma extra, de humildade. Quero colher os frutos bons,  porque se penei atravessando tempestades, hoje quero o calor do sol e a claridade. Algumas dessas escolhas foram muito difíceis, implicavam num adeus mudo, só meu, que precisava - e merecia! - ser sereno, e foi onde mais aprendi, foi quando mais sofri, foi a travessia mais dolorosa. Mas foi a mais generosa ponte para as lições mais importantes. Fiz escolhas que me propiciaram momentos perfeitos, alguns trouxeram alegrias que são inesquecíveis, reencontros, proximidade, afetos resgatados, ousadia e coragem. Parte de minhas escolhas ainda me farão caminhar, porque os sonhos estão incompletos e precisam que eu persevere e saiba esperar. Confio que os resultados esperados serão novos dias de muita alegria e farta comemoração!

Passar esses anos com uma mãe que é o meu porto seguro, é a certeza de trocas importantes, de tensão e união, de calor nas discussões e nos abraços, de momentos felizes, de laços e nós. A minha ocupa o podium da minha existência, lidera de longe minhas emoções, é a fonte que abastece de alegria o meu coração. É o laço eterno que envolve meu mundo e orienta meu caminhar, é o conforto, a constante motivação. Disparado, é a forma mais genuína da demonstração do amor, do perdão, da camaradagem, companheirismo, conflitos e superações.

Sou amplo, restrito, generoso, rígido, sorridente e chorão. Sou a veia que pulsa, a raiz profunda, os galhos nus, a fruta madura. Sou as manhãs frias, as noites escaldantes, o cheio, o vazio. Sou a letra muda, o som alto, a música calma, a dança frenética. Sou o avesso, o ponto cheio, a agulha que alfineta. Às vezes atravesso, desafino. Sou o afago, a mão estendida, ciumento, ansioso, rude, ácido e amoroso. Tenho manias, segredos, medos, desejos, angústias. Tenho crises de riso e de choro, picos de irritação e surpresas tão boas que nem acredito. Tenho amigos queridos, projetos, saudades, ideias, fraquezas, bom humor, limitações. Tenho hábitos antigos, anseios, comportamentos novos, arrependimentos, novas crenças, velhos gostos, aprendizados e falhas. Muitas vezes peco por excesso, ou deixo a desejar e nem percebo, subtraio, esvazio, questiono, procuro, perco, ganho. Sou rio, oceano, gota pequena. Sou um universo vasto, infinito, incompleto, bonito, humano, imperfeito, o eterno aprendiz!!

Eu sou o homem que aprendeu com os erros, que reverencia a vida, persiste, tem coragem, se espanta e se comove, sonha, acredita. Sou aquele que diz coisas horríveis e se arrepende, que houve bobagens e releva, e as horríveis, nem sempre esquece, mas perdoa, é perdoado. Alimento minha criança interior, sou responsável e correto, mas também vacilo, me engano - e desabo. Sou o terapeuta dedicado, intuitivo, acolhedor, imperfeito; sou o amigo presente, cedo o coração, o colo, o ombro, mas nem sempre correspondo; sou o filho que ama, que cuida, se preocupa, comete deslizes e decepciona.

Nessa reflexão não esqueci de meus sonhos desfeitos, dos momentos de desespero, das renúncias, da insegurança diante de cada decisão, das noites enormes e dos dias vazios, mas lembro que os tombos foram os momentos de descanso, e sou obrigado a concluir que tenho muita sorte, e que, por todos os anos que vivi, pude encher um enorme "baú de lembranças" caras e lindas, tumultuando um tesouro precioso. Por tudo que vivi, pelos últimos acontecimentos na minha vida, pelas pessoas que dela fazem parte, pela saúde que todos temos, pelas oportunidades e recursos maravilhosos para usufruir dessa vida abençoada, sou infinito e imensamente grato!

Amanhã, se Deus quiser, vou acordar e... de repente 30 !!!  \o/  Parabéns pra mim!!

Tiago Lima

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